
Realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia e com o BNDES, seminário aponta o Rio de Janeiro como um “case” de aplicação do Plano Brasileiro de IA
A inteligência artificial (IA) está no centro da geopolítica global e merece um olhar estratégico por parte do Brasil. A partir dessa concepção, representantes dos setores científico, público e produtivo se reuniram na manhã desta quinta-feira, 16/10, na sede da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, para debater e propor uma estratégia para o desenvolvimento e uso da IA na administração pública, tendo como foco das ações a cidade do Rio de Janeiro. Com o título “Rio como polo de IA aberta e soberana”, o seminário foi realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia e com o BNDES. Veja aqui o evento todo.
O presidente da Finep, Luiz Antonio Elias, destacou a capacidade científica do Rio de Janeiro para ser um polo de IA – “com uma constelação de instituições: unidades de pesquisa, universidades federais, estaduais e privadas” – e acrescentou que o seminário – que se estenderá por dois dias – abordará temas fundamentais para que o Rio transforme seu potencial científico em capacidade produtiva e competitiva: infraestrutura digital, soberania, ética e governança de dados, formação de talentos e regulação de IA.
“Não há nação independente que não priorize o conhecimento. E o Brasil do conhecimento não pode se limitar a acompanhar revoluções tecnológicas – precisa assumir o protagonismo e criá-las. Nós podemos e faremos isso coletivamente”, disse Elias, mencionando o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) como o ponto de partida para as ações estratégicas. “Já foram aprovados R$ 3,4 bilhões para projetos da Finep no âmbito do PBIA. São investimentos que fortalecem a infraestrutura de pesquisa, a formação de recursos humanos, a inovação empresarial, promovendo ciência, competitividade e transformação social”, comentou.
“O Rio de Janeiro tem vocação para liderar esse projeto de desenvolvimento de uma inteligência artificial aberta e soberana e esta é uma oportunidade para pensarmos juntos – a articulação entre universidades, empresas e poder público é, mais do que nunca, necessária”, defendeu a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, representando o prefeito Eduardo Paes, na abertura do evento.

Ainda na abertura do seminário, Helena Tenório, diretora do BNDES, comentou sobre o protocolo de intenções assinado para o projeto Rio AI City, que visa fazer do Rio de Janeiro o maior hub de datacenters da América Latina. Segundo ela, o BNDES já aprovou R$ 1,4 milhão em créditos para financiamento de datacenters – “sempre por meio do programa Mais Inovação, que tem R$ 5 bilhões disponibilizados para esse emprego”.
PBIA e transição energética em debate
A primeira mesa do seminário abordou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que foi apresentado pelo diretor do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Caetano Penna. “O plano prevê o investimento de R$ 23 bilhões, em cinco anos, o que mostra a priorização pelo governo do desenvolvimento da IA”, disse Penna.
Tatiana Roque mostrou como o Rio de Janeiro está se tornando um “case” da aplicação do PBIA, com projetos para a melhoria dos serviços prestados pela administração pública – sobretudo nas áreas da saúde, segurança e no monitoramento de calamidades.
Pesquisador do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o professor Virgílio Almeida chamou a atenção para os desafios a serem enfrentados e destacou a redução de empregos e a falta de retenção de talentos na área de IA.
Ainda no turno da manhã, a segunda mesa do seminário debateu o uso de IA para a transição energética e o enfrentamento de mudanças climáticas. Moderador da mesa, o especialista em Energia, Mauricio Tolmasquim, que integra o Conselho de Administração da Eletrobras, apontou que o uso de IA já é uma realidade no setor energético, tanto na geração como na distribuição.
Coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial para Energias Renováveis (CEIA-ER), da Coppe/UFRJ, Alvaro Coutinho abordou a tecnologia de aprendizado de máquina e o refinamento científico necessário para o uso de IA em engenharia e ciência – o que chamou de “IA invisível”.
Katia Garcia, Gerente do Departamento de Transição Energética e Sustentabilidade do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel), destacou o desafio que o setor de energia enfrenta para se adaptar às mudanças climáticas, “pois impactam na disponibilidade de recursos, na eficiência dos equipamentos, na demanda de eletricidade e em riscos às infraestruturas”. O Cepel, segundo ela, usa IA para previsões e projeções climáticas.
A chefe de Tecnologia e Análise de Dados da Petrobras, Luiza Rangel Veloso, comentou sobre o uso de IA pela companhia e falou do desafio representado pelo consumo de energia pelos próprios centros de tratamento de dados.
Em participação remota, por vídeo, Mariza Ferro, professora do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense (UFF), apresentou o Rionowcast, projeto de pesquisa e desenvolvimento para melhoria da previsão de chuvas extremas e identificação de áreas vulneráveis a riscos ambientais a partir de modelos de IA.
Após cada uma das mesas, foram realizados debates com os participantes. O seminário seguiu no turno da tarde com painéis sobre Ciência, Pesquisa, Formação e Ética em IA e Infraestrutura em IA.
IA como instrumento para reduzir a desigualdade social
Na mesa “Ciência, Pesquisa, Formação e Ética em IA”, moderada por Luiz Davidovich, da Finep, os convidados ressaltaram a importância de utilizar a inteligência artificial para reduzir, e não agravar a desigualdade social no Brasil. “Há uma questão ética importante e que deve ter a IA como um instrumento importante para gerar desenvolvimento social”, pontuou Davidovich.
Outra questão levantada por Renato Cerqueira, da PUC-Rio – Diretor do Instituto PUC-Behring de IA, foi a fuga de talentos do país, em função de melhores salários e incentivos oferecidos no exterior para pesquisadores, cientistas e jovens estudantes, o que evidencia a necessidade de estruturar no Brasil a formação de novos talentos, além de ampliar as condições para desenvolvimento de carreira no país.
Vahid Nickoofard, físico e pesquisador da UERJ, ressaltou que esta fuga de talentos ocorre também na Índia e na China. Nickoofard sugeriu que os países que compõem os BRICs deveriam se unir para diminuir a desigualdade tecnológica. Nickoofard tem dupla nacionalidade, iraniana e brasileira, e pontuou também pela importância do uso de softwares de fonte aberta em colaboração a comunidade internacional, como forma de ampliar as capacidades humanas e gerar bem-estar social a partir da tecnologia.
José Hugo Elzas, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), ressaltou que a IA é o final de uma cadeia de valor que abrange rede de internet de banda larga e cibersegurança para que a IA possa ser inserida em sistemas produtivos de forma eficiente. Lembrou que os modelos fundacionais de IA estão concentrados no Norte Global, nas big techs, o que é uma ameaça à soberania de outros países. Bruno Xavier, do Senai, defendeu que o Rio tem uma oportunidade de se tornar um grande centro tecnológico-modelo para atender demandas do estado, do país e até internacionais. Geraldo Xexéo, da COOPE-UFRJ, pontou que a IA vem obrigando as universidades, principalmente as mais antigas, a repensarem um “sistema de educação obsoleto”, não apenas a mentalidade dos alunos.
A importância da tecnologia brasileira para uma IA soberana
Na mesa “Infraestrutura de IA (dados e redes)”, moderada por Natasha Galotta, do BNDES, os participantes Leandro Ciuffo, da Rede Nacional de Pesquisa, Marcelo P. de Albuquerque, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e Welsinner Brito, do SERPRO, destacaram a importância de tecnologias brasileiras para o desenvolvimento de uma IA aberta e soberana. Albuquerque propôs a criação de uma estrutura, o CI.IA Rio, formada pelo Hub.Rio/UFRJ; CENPES/Petrobras; RNP, Puc-Rio; UFF; CEPEL, entre outras instituições. “O Rio reúne expertise científica, infraestrutura de ponta e instituições de IA. É preciso transformar o Rio como polo de IA aberta, em articulação com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, Finep e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os participantes das mesas citaram cidades como Shenzhen, na China, Paris e Boston, que estão investimento fortemente em tecnologia e IA.
Veja como foi o segundo dia do evento.






