Seu navegador no suporta java script, alguns recursos estarão limitados. Brasil precisa se preparar para o futuro cibernético
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Virgilio Almeida

Virgílio Almeida é professor emérito de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG - foto João Luiz Ribeiro (Finep)

O emprego começou e terminou no século XX. Esta foi a conclusão geral dos participantes da palestra do professor emérito de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Virgílio Almeida (foto), que esteve na Finep para falar da crescente digitalização da sociedade e o avanço dos sistemas autônomos e inteligência artificial, novos desafios e oportunidades que se apresentam para o Brasil.  

“Do lado positivo, o país tem uma janela de oportunidades para explorar, com inúmeras possibilidades de impacto, áreas como saúde, segurança, mobilidade, entretenimento e competitividade econômica”, disse Virgílio, que também chamou a atenção para a importância da ciber-segurança e da necessidade de se construir abordagens que usem tecnologias emergentes para o compartilhamento de informações e gerenciamento de riscos.

Virgílio destacou o crescimento da internet no Brasil e no mundo. No Brasil, por exemplo, em 2008, 9,9 milhões usavam a rede, e em 2018 esse número saltou para 46,5 milhões. Estima-se que haja 126 milhões de pessoas no país com acesso à internet atualmente, sendo que 97% da população acessam as redes pelo celular, 43% pelo computador, 30% pela TV, e 9% para uso de videogames.

Essa realidade transformou o cotidiano das pessoas, não apenas no Brasil como em todo o mundo. “Hoje em dia – diz Virgílio – usamos ferramentas de trânsito para chamar táxis, pedir alimentos, fazer compras em supermercados e por aí em diante”. Isso, no entanto, já está dominado. E como será o futuro digital?

Almeida alerta para algumas características importantes: essas plataformas são dirigidas por algorítmos e não por humanos, que tomam decisões por nós. E exemplificou: quando abrimos o facebook, as notícias que chegam vêm por algorítmos, por isso sempre aparecem os contatos que mais usamos. Essas plataformas coletam dados o tempo inteiro e, muitas vezes, nos dão respostas antes das perguntas. Como exemplo, citou uma ocasião em que se hospedou no exterior e, antes de pesquisar o restaurante próximo, na tela do celular apareceu o endereço mais acessível.

O certo é que o processo de automação avança a passos largos em todos os setores, “mas não queremos perder as características do humano, por isso é importante definir o papel estratégico que o Brasil terá nos próximos anos”, diz Virgílio. O reconhecimento facial, as traduções instantâneas, a facilidade de acesso a transações bancárias são avanços reais, capazes de impactar o emprego.

Os setores mais afetados são a música, com o desaparecimento do CD; a informação, com a substituição gradativa da mídia impressa e televisiva pelo acesso ao google em tempo real; as livrarias, com os bookings digitais; o entretenimento, com a Netflix; os transportes; e o setor financeiro, que está vendo crescer novos players. Os próximos setores a serem afetados são o ensino e a medicina, onde a digitalização deve fazer adequações. Além disso, as mudanças tecnológicas são rápidas e os governos, lentos.

Se é verdade que os avanços tecnológicos trazem economia e aumentam a produtividade, também é certo que têm impacto direto no emprego. “Para onde irão os empregos? É preciso buscar alternativas, avaliar o futuro do trabalho e o trabalho do futuro, e preparar os recursos humanos para a robotização”, avalia Virgílio.

A saída é complexa, porque a internet cresceu e ficou na mão de poucas empresas americanas, como Google, Amazon, Appel, Facebook, Microsoft. Essas empresas influenciam negócios e a vida política dos países.

Outro ponto importante é a ciber-segurança, que tem três pontos preocupantes: o lado político, os desafios tecnológicos e os ataques cibernéticos. No Brasil, 78% das pessoas acham que o país está preparado para enfrentar essa questão, contra 16% que não acreditam nisso.

Esses ataques podem não ser apenas para retirar dados. Podem ser físicos se atacarem, por exemplo, um marcapasso, que tem software. Interferem também na difusão de informações falsas para fazer dinheiro e na obstrução de serviços que seriam liberados se houvesse pagamento em moedas criptografadas.

Para o professor, as novas gerações vão enfrentar esses desafios e já caminham para isso. O importante é prepará-la para a interação que terão de fazer com a robotização.